Rompimento de barragens condenadas pela Vale poderia expor 18 cidades a danos mineiras
Dezoito cidades, incluindo a capital mineira, sete rodovias, seis cursos d’água e um bom pedaço da mata atlântica. Tudo isso pode sofrer impactos caso as barragens Forquilha I e III, em Ouro Preto, região Central de Minas, e B3/B4, em Macacos, distrito de Nova Lima, na Grande BH, se rompam. As estruturas, de propriedade da Vale, tiveram o nível de risco elevado de 2 para 3, o patamar máximo, na noite de quarta-feira (27).
A possível chegada dos rejeitos ao rio das Velhas, em caso de colapso de qualquer uma delas, afetaria o abastecimento de água na região metropolitana. Outros municípios no entorno, banhados pelo afluente, também seriam afetados. Em fevereiro, os reservatórios haviam sido classificados pela Agência Nacional de Mineração (ANM) como de baixo risco.
Porém, na avaliação de Marcus Vinícius Polignano, coordenador do Projeto Manuelzão e presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas, o cenário é “catastrófico” e, caso a ruptura aconteça, áreas de preservação da mata atlântica serão devastadas tanto em Nova Lima quanto em Ouro Preto.
O ambientalista também destaca o desabastecimento de água de 60% dos moradores de BH atendidos pelo Velhas, além de outras cidades. “Já não contamos mais com o rio Paraopeba (atingido pelos rejeitos de Brumadinho). Nunca imaginei que chegaríamos a uma situação tão crítica e absurda como esta”, lamenta.
Rodovias
A ruptura de Forquilha I, conforme o documento, também afetaria a MG-010, na Grande BH. Já um desastre em Forquilha III se estenderia por 111 quilômetros de áreas com potencial para alagamentos.
No caso da barragem em Macacos, além da área que as autoridades consideram não ter tempo suficiente para o resgate em caso de tragédia, os rejeitos também atingiriam os vilarejos de Honório Bicalho e Santa Rita, em Nova Lima, e os municípios de Raposos e Rio Acima.
A contaminação do rio das Velhas seria justamente nesse último município, no leito antes da Usina de Bela Fama, ponto de captação da água que abastece a metrópole.
Falhas
Professora do curso de engenharia civil das Faculdades Kennedy, Rafaela Baldí acredita que os recorrentes casos de elevação do nível de alerta sobre as barragens demonstram falhas de gestão. “Não é normal uma estrutura apontada como estável estar caindo de uma hora para outra. Isso evidencia que não houve boa gestão de segurança”, diz.
Para Carlos Barreira Martinez, do Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade Federal de Itajubá, é necessário que o Estado dialogue com as mineradoras, auditorias independentes e poder judiciário para amenizar os problemas da emissão de laudos de estabilidade de barragens e evacuações de comunidades. “É preciso sentar e conversar para se chegar a uma solução. O Estado precisa da mineração economicamente. Mas as empresas devem operar respeitando as leis e a população”, frisa o professor.
Conforme Martinez, apontar o processo de descomissionamento das barragens como única alternativa é uma falha. “Não é como demolir uma casa. Pode haver interferência e gerar um rompimento do reservatório”, alerta.
A Agência Nacional de Mineração (ANM) e a Vale foram procuradas pela reportagem, mas não se manifestaram sobre o assunto. O governo de Minas não se posicionou sobre a possibilidade de uma conversa com mineradoras e auditorias.